Postagens

I, II & III

I Então já passava da meia-noite e uma coisa era certa: o sono não viria mais uma vez. Já tinha perdido as contas de quanto tempo eu estava alternando o dia pela noite, a noite pelo dia, os dias pelo nada que as horas não dormidas ou apenas projetadas me causavam: um nada. De um lado para o outro da cama, o lençol que vai saindo das beiradas, o desconforto da noite quente, do travesseiro fundo. Da cama para a porta, da porta a um destino: a cozinha. Quem sabe lá eu não encontro o afago de um alimento gelado, talvez insosso, que me espera na geladeira? Da porta para o espelho. Uma visão turva de quem sou na madrugada, um personagem à parte da realidade, um reflexo de quem poderia ter sido, mas não fui, a visão distorcida de quem espero ser até chegar à geladeira. Geladeira, palavra estranha. Gelo. Beira. Abismo. Quantos passos serão necessários? Quais movimentos dispensarão esforços esses músculos um tanto atrofiados por falta de uma caminhada saudável ao acordar, músculos que
Postagens recentes